O intuito foi analisar a visão dos moradores sobre as execuções do programa e saber quais os seus impactos na qualidade de vida da população

A Prefeitura de Parauapebas realizou, em 2025, pesquisas qualiquantitativas (considerando percepções, experiências, sentidos e significados) para compreender como os moradores avaliam as obras do Programa de Saneamento Ambiental, Macrodrenagem e Recuperação de Igarapés e Margens do Rio Parauapebas (Prosap) e seus impactos no saneamento, na mobilidade urbana e na qualidade de vida.
O trabalho analisou os impactos do programa no fortalecimento sustentável das condições socioambientais e na urbanização no entorno dos igarapés Ilha do Coco, Guanabara (afluente do Ilha do Coco) e Chácara das Estrelas e contemplou moradores do Residencial Vale do Sol, usuários do Complexo Turístico Bel Mesquita, da região do Mercado Municipal e das vias construídas para o acesso aos bairros Liberdade I, União e Rio Verde. As análises mostram que a maioria considera as obras positivas e reconhece melhorias significativas no bem-estar, no lazer, no saneamento, na segurança e na urbanização.
“As avaliações da população nos ajudam a entender a real visão dos moradores a respeito das execuções e, no caso da pesquisa realizada no Vale do Sol, onde reassentamos um total de 250 famílias remanejadas, involuntariamente, de áreas de intervenção do programa e de áreas de alagamentos, os resultados permitiram a elaboração do relatório final do pós-obras, demanda exigida pelo próprio BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento]”, explica o engenheiro civil e coordenador do Prosap, Thiago Batista.
Residencial Vale do Sol
No bairro, onde 250 famílias foram reassentadas, a pesquisa avaliou o cumprimento do Plano Específico de Reassentamento Involuntário (PERI) e a restauração das condições de vida das famílias. A maioria dos moradores reconhece avanços na infraestrutura, nos serviços e na integração social; antes as famílias viviam em áreas de risco, a exemplo das palafitas no bairro Primavera.

Além das unidades habitacionais, o programa de saneamento construiu também o Centro Comunitário, espaço onde a população teve acesso a diversas capacitações voltadas ao mercado de trabalho, recebeu serviços de saúde, participou de oficinas e ações de acolhimento voltadas também à população idosa. Ainda como compensação social às famílias retiradas das áreas de intervenção, o programa viabilizou a construção da sede própria da Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Cora Coralina, da Unidade Básica de Saúde (UBS) Tropical, e a reforma e ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do bairro.
“O estudo também mediu a qualidade da restauração dos meios de subsistência e a integração socioeconômica das famílias reassentadas, aspectos essenciais para reduzir riscos de empobrecimento pós-deslocamento e garantir o cumprimento de padrões nacionais e internacionais de proteção social e de direitos humanos”, explica a subcoordenadora de Ações Sociais do Prosap, Zita Bogea.
Complexo Turístico Bel Mesquita

Principal espaço público de lazer e esportes de Parauapebas, o Complexo recebe cerca de 28 mil visitantes por mês. Construído em área de 150 mil metros quadrados, dentro da Área de Preservação Ambiental (APA) do Igarapé Ilha do Coco, o local promove saúde física e mental, interação social e geração de emprego e renda.
Na pesquisa realizada, 96,4% dos entrevistados apontaram melhora na qualidade de vida. Lazer gratuito, promoção da saúde, turismo e geração de renda foram os benefícios mais apontados pelos frequentadores.
Controle das cheias
A obra também foi planejada para o controle das cheias do Igarapé Ilha do Coco. Para tanto, foi construída uma barragem de contenção dentro do complexo com a finalidade de regular a vazão da água e reduzir as ameaças de inundações, permitindo o controle do nível da água e a liberação gradual em períodos de cheia.

Mercado Municipal
Para garantir o escoamento adequado das águas provenientes das chuvas e do Igarapé Guanabara — e pôr fim aos históricos alagamentos de grandes proporções – o programa construiu uma galeria subterrânea de 900 metros de extensão, na área próxima ao Mercado Municipal, no bairro Rio Verde. A estrutura é composta por uma linha dupla de aduelas e conjuntos de concreto medindo 2,5 x 2,5 metros e encerrou um antigo problema enfrentado por comerciantes e moradores do entorno, que sofriam com enchentes todos os anos no período chuvoso.

Com a nova rede de macrodrenagem, as águas passaram a escoar de forma eficiente, eliminando perigos e garantindo mais segurança para as pessoas que moram ou trabalham nessa região central da cidade.
Segundo Yuri Pereira, sociólogo do Prosap, as pesquisas são um termômetro avaliativo sobre o impacto das obras na vida da comunidade. “De um modo geral, os moradores consideraram que esse impacto na qualidade de vida foi positivo ou mesmo muito positivo. Isso significa uma melhora no saneamento básico, no bem-estar e lazer e nas condições de trabalho – especialmente na área do Mercado Municipal”, disse.
Parque Linear Igarapé Ilha do Coco – viários (bairros Liberdade I, União e Rio Verde)
Visando conter o avanço sobre a Área de Preservação Permanente (APP) próxima ao Igarapé Ilha do Coco, o programa de saneamento também implantou o Parque Linear Igarapé Ilha do Coco. Além de um sistema viário com quase 1,5 quilômetro de extensão, que melhorou a trafegabilidade na região, o espaço conta com infraestrutura completa, incluindo ciclovias, pergolados, praça com academia ao ar livre, guarda-corpos, lombadas, sinalização adequada, iluminação em LED, drenagem pluvial e vagas de estacionamento.

Nessa área, a pesquisa teve como propósito avaliar a contribuição do programa para a oferta de infraestrutura básica de saneamento ambiental, acessibilidade e mobilidade urbana, qualificação dos espaços públicos e integração de áreas, antes isoladas, ao restante do tecido urbano. 97,3% dos participantes apontaram redução dos alagamentos e 93% avaliaram o impacto das obras como positivo ou muito positivo.
O morador Júnior Quaresma, 45 anos, morador do bairro União, destacou: “Melhorou muito no turismo também, já que pessoas de outros bairros vêm conhecer a orla. A questão dos alagamentos melhorou 99,9%. As obras são nota dez e só trouxeram benefícios para a cidade”.
Já Euclides Silva, 65 anos, morador da Rua Q, também no bairro União, há 39 anos, acrescenta: “Melhorou em vários aspectos, inclusive nas condições higiênicas. Antes havia um matagal onde pessoas usavam drogas ou se prostituíam. Hoje temos uma orla com espaço de lazer, zumba e quiosques que ajudam muita gente a complementar a renda”.
BID
Os documentos com os resultados das pesquisas serão enviados ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), agente financiador das obras, e apresentados à gestão municipal como indicadores para a formulação de políticas que atendam às necessidades da população.
Texto: Nara Moura
Fotos: Chico Souza e arquivo Prosap