Batedores de açaí de Parauapebas ganham apoio da prefeitura

publicado: 26/06/2021 10h28

Caroços despejados em qualquer lugar começarão a ser recolhidos pela Semurb enquanto a Seden providencia terreno onde o rejeito possa ser descartado de forma sustentável. Outras medidas são discutidas com Abap para organizar a categoria e a venda do açaí no município.

 

A partir da próxima semana, a Prefeitura de Parauapebas vai começar a recolher as “montanhas” de caroço de açaí descartadas por mais de cem pontos de venda na cidade. A coleta será feita pela Secretaria de Serviços Urbanos (Semurb) e é resultado das reuniões que começaram a ser feitas pelo governo municipal com a Associação dos Batedores de Açaí de Parauapebas (Abap).

Além da Semurb, as secretarias de Desenvolvimento (Seden), Produção Rural (Sempror) e de Meio Ambiente (Semma) estão envolvidas num processo para organizar a venda de açaí no município conforme as políticas ambiental e de sustentabilidade.

E o descarte do caroço do açaí em terrenos baldios e até nas ruas é o primeiro problema que começa a ser enfrentado. Afinal, até o final deste ano, serão quase 100 toneladas de caroço produzidas pelos batedores de Parauapebas, município do sudeste paraense que mais consome açaí, à frente até mesmo da vizinha Marabá, cuja população é bem maior.

Como medida emergencial, a prefeitura vai disponibilizar um caminhão para o recolhimento do rejeito atendendo a pedido da Abap, que se comprometeu em elaborar um protocolo de descarte do caroço em conformidade com as leis ambientais. Por enquanto, o rejeito vai para o aterro sanitário.

A notícia foi comemorada pela Abap, criada em dezembro de 2020 para organizar a categoria em Parauapebas e que hoje tem cerca de 80 associados. “Hoje, nós jogamos o caroço em qualquer lugar. É vergonhoso falar isso, mas é a realidade porque não há uma área onde podemos fazer o descarte”, reconhece o presidente da entidade, Werbert Santana de Barros.

Mas aí foi dada outra boa notícia para os batedores, desta vez pelo secretário municipal de Desenvolvimento, Mariano Júnior: a Seden já está providenciando uma área no Distrito Industrial, para receber o caroço do açaí.

Para a Abap, a orientação é para que incentive os associados a se transformarem em pequenos empreendedores já que a maioria trabalha na informalidade.

Sem a formalização, observa Mariano Júnior, os batedores ficam “invisíveis” para o governo – seja municipal, estadual ou federal – e perdem, por exemplo, fomentos como os disponibilizados pelo Banco do Povo.  

Beneficiamento do caroço

Durante o período da safra do açaí no Pará, nada menos que entre 15 e 25 toneladas de caroço da fruta são descartados, por dia, em Parauapebas pelos batedores. Fora da safra, são jogados fora de sete a oito toneladas, o que provoca problemas ambientais.

Nas reuniões entre a prefeitura e a Abap, é consenso entre todos a necessidade de criação de um projeto para o beneficiamento do caroço do açaí, o que vai gerar mais renda e emprego no município. E um dos maiores incentivadores é o professor Leonardo Vaz Pereira, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), do campus de Parauapebas, que tem participado das reuniões com a Abap.

A proposta é produzir substrato sustentável do açaí, apontado como rico em nutrientes. Ou seja, a meta é reaproveitar o que hoje é jogado fora como lixo e transformá-lo em fonte de renda para as famílias dos batedores. “Podemos transformar esse ‘lixo’ em dinheiro, reaproveitando aquilo que faz mal para o meio ambiente”, enfatizou Vaz Pereira em reunião realizada na terça-feira, 22.

O caroço pode ser secado, triturado e embalado para venda, para ser usado como adubo orgânico, por exemplo, ou pode servir de matéria-prima para artesanato e bijuterias. Há empresas que também já transformam o caroço do açaí em carvão e até mesmo em fabricação de telhas.

Economista da Secretaria de Produção Rural, Arnaldo Luiz Milan também se empolga com a ideia e frisa que a prefeitura está aberta às parcerias. “A Sempror pode dar destinação final ao caroço transformado em adubo, em fertilizante”, diz ele.

Texto: Hanny Amoras
Fotos: Piedade Ferreira e Abap